Os casos de Alzheimer têm tido um crescimento acelerado e silencioso no Brasil e nos demais países da América Latina, de acordo com um estudo divulgado pela Economist Impact, braço de pesquisa e análise da tradicional revista britânica The Economist. Em entrevista ao Conexão BdF, da Rádio Brasil de Fato, o médico geriatra e diretor técnico do Centro Internacional de Longevidade Brasil (ILC-BR), Milton Crenitte, comentou questões do diagnóstico, prevenção e políticas públicas necessárias para conter o avanço da doença.
Para Crenitte, “a Política Nacional de Cuidado tem que estar associada à Política Nacional do Alzheimer”. Ele defende que, diante do aumento de casos, sejam discutidos benefícios previdenciários, além de medidas de apoio e educação para quem cuida de uma pessoa que vive com Alzheimer, geralmente mulheres.
“Quem faz o cuidado de uma pessoa que vive com Alzheimer no Brasil geralmente é alguém da família e geralmente são mulheres”, afirma. “São essas mulheres que estão adoecendo, são essas mulheres que não têm esse trabalho invisível reconhecido como trabalho. […] Precisamos ir além, entender e auxiliar pra que essa política seja efetiva e as apoie”, defende.
A Política Nacional de Cuidados (Lei 15.069/24) foi aprovada no fim de 2024 para garantir o direito ao cuidado e a co-responsabilização de homens e mulheres pela provisão de cuidados, consideradas as múltiplas desigualdades. De autoria da deputada Sâmia Bomfim (Psol-SP) e outras 25 parlamentares, um projeto de lei (PL 2947/24) inclui a política entre os programas e projetos beneficiados pelo Fundo Social do pré-sal. A proposta está em análise na Câmara dos Deputados.
Já a Política Nacional de Cuidado Integral às Pessoas com Doença de Alzheimer e Outras Demências (Lei 14.878/24), sancionada também no ano ado, trata da oferta pelo Estado de um sistema de apoio para essas famílias. Ela prevê que o Sistema Único de Saúde (SUS) forneça meios para ajudar as famílias a cuidar do paciente dentro de sua própria casa.
Crenitte reconhece o avanço com a lei, que visa também conscientizar, fazer campanhas e políticas públicas em relação à doença, mas critica a falta de uma integração federal, estadual e municipal para tratar do tema. “[É necessária] toda essa coordenação interdisciplinar e intersetorial para que não fique só no campo da saúde falar sobre o Alzheimer”, diz.
Crescimento silencioso
De acordo com o estudo da Economist Impact, o crescimento da doença no Brasil acontece muitas vezes sem diagnóstico. O médico atribui isso ao idadismo ou etarismo, preconceito contra pessoas mais velhas, inclusive por parte dos profissionais de saúde. “Algumas pessoas vão achar que esquecer, estar mais confuso ou ter uma confusão mental seria ‘normal’ […] e acabam não procurando diagnóstico”, relata.
Entre os sintomas iniciais da doença estão sinais de esquecimento e confusão, alteração de comportamento e da linguagem, e perda da capacidade de realizar tarefas diárias. A partir das queixas, o médico faz um teste para identificar a perda da memória, investigando também possíveis problemas da tireoide, depressão ou outros problemas de saúde que podem descartar o diagnóstico de Alzheimer. “São testes em que eu demoro três minutos pra saber como está a memória da pessoa”, indica Crenitte.
Prevenção reduz chance de Alzheimer
Conforme a pesquisa, cerca de metade dos fatores de risco para demência no Brasil são potencialmente modificáveis. De acordo com o diretor Milton Crenitte, políticas públicas e métodos de prevenção podem evitar especialmente o Alzheimer tardio, após os 60 anos, quando a doença geralmente não depende de fatores genéticos.
Entre os fatores de risco, estão a falta de escolaridade na infância, o não tratamento de doenças crônicas, o sedentarismo, o tabagismo, o consumo de álcool e trauma cerebral. O médico também cita como importante fator de prevenção o consumo de “comida boa, sem veneno”. “Isso precisa ser uma política pública, uma política de Estado”, defende.
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