Em entrevista ao Conexão BdF, da Rádio Brasil de Fato, a cientista política Carolina Botelho avaliou o depoimento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no Supremo Tribunal Federal (STF), nesta terça-feira (10), como uma tentativa de manter o que ainda lhe resta de capital político, já em desgaste. Ela destaca, no entanto, que a postura adotada por ele durante o inquérito pode ter provocado efeito contrário ao esperado.
“A ideia de Bolsonaro é tentar manter o que lhe resta de capital político. Ele sabe que está inelegível, e que é muito improvável a modificação da situação dele”, diz. Para Botelho, o objetivo do ex-presidente com o depoimento é manter influência sobre a base bolsonarista e seu partido, o PL, mirando as eleições de 2026.
A partir da análise das reações dos seus apoiadores nas redes sociais, ela analisa que “talvez o cálculo político dele tenha sido errado”. “Esse tipo de brincadeira feita ontem com o ministro [do STF] Alexandre de Moraes não bateu bem no eleitorado dele”, aponta, referindo-se ao momento em que o ex-presidente ironizou ao dizer que gostaria de ter Moraes como vice em uma possível chapa eleitoral. Ações em defesa da democracia tornaram o ministro alvo constante de ataques de Bolsonaro e da extrema direita, portanto, uma espécie de “inimigo” dos bolsonaristas.
A fala em que Bolsonaro se refere aos próprios apoiadores como “malucos” também repercutiu negativamente entre seus seguidores, segundo a especialista. “Esse tipo de abordagem pode fazer com que ele perca mais capital e, assim, não se torne aquela força aglutinadora que ele vem sendo nos últimos anos, mas que, aos poucos, tem perdido”, avalia. “Para ter a empatia do judiciário na hora de julgá-lo, ele acaba perdendo mais ainda daquilo que lhe resta”, conclui.
Militares réus: ‘Tentar golpe é colocar carreira em risco’
Botelho também comentou o impacto do interrogatório de militares, como o general Walter Braga Netto, na relação das Forças Armadas com a política. Para ela, a punição de figuras envolvidas na tentativa de golpe ajuda a colocar freios no ímpeto golpista de setores militares.
“Quando você pune essas pessoas que eventualmente participaram da tentativa de golpe com Bolsonaro, você também coloca um freio nas próprias forças. […] Isso mostra, serve de exemplo para o resto da corporação de que se tentarem mais uma vez um golpe de Estado, podem colocar a carreira em risco. É isso que está acontecendo”, afirma.
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