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Desigualdade e práticas da indústria empurram doenças para os mais pobres, aponta livro

Problemas como diabetes e até alguns tipos de câncer atingem as populações mais pobres com mais intensidade

Um livro eletrônico lançado pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) em parceria com a ACT Promoção da Saúde traz uma compilação inédita de estudos e dados sobre a influência das desigualdades sociais e práticas comerciais no aumento das doenças crônicas não transmissíveis (DCNT).

A obra Determinantes sociais em saúde, doenças crônicas não transmissíveis e seus fatores de risco e de proteção na população adulta brasileira, divulgada no último 28 de março, mostra que condições como hipertensão, problemas cardiovasculares, diabetes e até alguns tipos de câncer atingem as populações mais pobres com mais intensidade.

“Os determinantes sociais em saúde causam muitas vulnerabilidades e aumentam a frequência das doenças crônicas, dos seus fatores de risco e da sua gravidade” afirma a professora e pesquisadora do Departamento de Enfermagem Materno-Infantil e Saúde Pública da Escola de Enfermagem da UFMG, Deborah Carvalho Malta, autora do livro.

Em entrevista ao Conversa Bem Viver, podcast do Brasil de Fato, nesta quarta-feira (11), ela também falou sobre o fator comercial dessa equação, que faz com que a indústria dos produtos que trazem malefícios à saúde mire suas táticas de venda nas populações mais vulneráveis.

“Verificamos que a hipertensão foi mais elevada para a população de raça/cor preta, de 29%. Ou seja, há um risco mais elevado”, exemplifica a autora. “São fatores que nos mostram que temos que ter um olhar diferenciado, porque há vulnerabilidades mais frequentes.”

Os determinantes sociais da saúde (DSS) incluem fatores como condições sociais, econômicas, nível de educação formal, raça e gênero que moldam o contexto em que as pessoas nascem, crescem, vivem, trabalham e envelhecem e ampliam a falta de o. Entre os exemplos levantados pelo livro está a maior prevalência de hipertensão arterial, diabetes, tabagismo e obesidade em populações com baixa escolaridade.

“Estamos falando de fatores de risco para doenças crônicas. Por exemplo, os ultraprocessados têm uma grande incidência na indústria e uma grande promoção desses alimentos não saudáveis, visando inclusive disseminar propagandas – muitas vezes fake news – de atributos e de benefícios que esses alimentos não possuem.”

A publicação também traz recomendações para combate ao problema. Elas envolvem o fortalecimento do Sistema Único de Saúde (SUS), ações de educação e o à informação, avanço da regulação, tributação e controle de produtos nocivos e incentivo a alimentos saudáveis.

Confira a entrevista.

O que são os Determinantes Sociais da Saúde (DSS) e por que é tão crucial compreender esses conceitos para enfrentar as Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT) no Brasil?

As desigualdades em saúde, os determinantes sociais em saúde causam muitas vulnerabilidades e aumentam a frequência das doenças crônicas, dos seus fatores de risco e da sua gravidade. Estamos falando dos fatores sociais, econômicos, culturais, étnicos, raciais, psicológicos, comportamentais que vão influenciar nos problemas de saúde e nos fatores de risco da população. Esses são muito mais frequentes na população de baixa renda, na população vulnerabilizada. É isso que estamos mostrando no nosso livro.

Outro tema que é muito importante são os determinantes comerciais da saúde, que estão nesse complexo dos determinantes sociais em saúde. Para as doenças crônicas, eles têm uma importância fundamental. São as estratégias que a indústria, o setor privado utiliza para promover produtos e escolhas que são prejudiciais à saúde. São fatores de risco de doenças crônicas.

Os ultraprocessados, por exemplo, têm uma grande incidência na indústria, uma grande promoção desses alimentos não saudáveis, visando, inclusive, disseminar propagandas com fake news de atributos e de benefícios que esses alimentos não possuem.

Em relação ao tabaco, nós estamos vendo agora um crescimento, por exemplo, do uso do vape, o cigarro eletrônico. Por trás disso, tem uma indústria promovendo a notícias falsas nas redes sociais. Não é só isso, eles também fazem pressão com parlamentares e gestores públicos, no sentido de que possam, inclusive, alterar a regulação.

O livro aborda os determinantes sociais, os determinantes comerciais e como isso influencia nas escolhas das pessoas e no ambiente, aumentando o risco tanto dos fatores de risco, quanto das doenças crônicas não transmissíveis.

Quais foram as disparidades mais marcantes ou preocupantes que a pesquisa revelou?

Nós estudamos essas variáveis sociodemográficas e identificamos que a baixa escolaridade, que usamos como proxy de renda, tem um risco muito aumentado para vários desses fatores. Muitas vezes também a raça/cor contribui para maior prevalência de doenças.

Por exemplo, a hipertensão tem uma prevalência média na população de 27%, mas para pessoas com 0 a 8 anos de escolaridade ela vai para 45%, enquanto para 12 anos ou mais de estudo, ela cai para 19%. É quase o dobro, o que mostra que as pessoas com baixa escolaridade têm prevalência muito maior e, com isso, têm risco de piores desfechos e maior demanda de serviços e medicamentos. A hipertensão é um dos maiores fatores para doenças cardiovasculares.

Também verificamos que a hipertensão foi mais elevada para a população de raça/cor preta, de 29%. Ou seja, há um risco mais elevado. São fatores que nos mostram que temos que ter um olhar diferenciado, porque há vulnerabilidades mais frequentes.

O mesmo acontece com a diabetes, que tem prevalência média de 10% na população em geral, mas vai para 19% com 0 a 8 anos de escolaridade e para 5% com 12 anos ou mais de estudo. O tabagismo é mais frequente na população de baixa escolaridade. No geral, ele é de 9% e na população de baixa escolaridade, tem uma frequência de 12%. Isso mostra que o o à informação e às práticas de proteção à saúde protegem as pessoas de alta escolaridade.

Também vimos que a prática de atividade física no tempo livre é muito mais alta na população de alta escolaridade, 51%. Para baixa escolaridade, isso cai pela metade. É um fator protetor menos frequente nas pessoas de baixa escolaridade e na população de raça/cor preta.

O consumo de frutas e hortaliças também é maior entre os mais escolarizados. Esse também é um fator de proteção. Nós temos uma série longa de dados desse indicador. Vemos que esse indicador teve seu ápice em 2015. Mas sabemos que o consumo de frutas e hortaliças é caro e, depois de 2015, ele teve uma queda para a população em geral. Analisamos que esse foi um período de grande retrocesso e ampliação da desigualdade social com o impeachment da presidenta Dilma Rousseff e o aumento das medidas de austeridade fiscal.

Como os Determinantes Comerciais da Saúde atuam para influenciar negativamente a ocorrência das doenças crônicas?

A indústria age tanto promovendo produtos prejudiciais como fazendo pressão com parlamentares para atrasar processos regulatórios ou até mesmo desregulamentar práticas.Também age trazendo falsas pesquisas, buscando debater com falsas evidências.

Um exemplo claro é o caso do vape, ou cigarro eletrônico. Estamos vendo um aumento do consumo e eles vêm em um contexto de redes sociais produzindo falsas evidências e a promessa da redução de danos, dizendo que, com a introdução do vape, as pessoas vão fumar menos e que ele não causaria vício. Tudo isso se concretiza como uma grande mentira, pois ele causa vícios, os sabores são usados para atrair jovens e ele produz mais dependência.

Diante de todo o panorama de desigualdades e desafios que o livro apresenta, o capítulo 5 traz recomendações cruciais para a redução das desigualdades nas DCNT. Quais seriam as recomendações mais urgentes que o Brasil precisa adotar para avançar na redução dessas iniquidades em saúde?

Sem dúvida uma das principais é o o às práticas de promoção da saúde. Isso é muito importante, porque o nosso Sistema Único de Saúde é universal e equânime e nós temos que ampliar cada vez mais o o, não só à assistência, mas às práticas de promoção da saúde. Porque grande parte dessas desigualdades se deve à falta de letramento da nossa população, então a educação em saúde é fundamental.

Além disso, temos a necessidade de avanço da regulação. Temos evidências de que o aumento de preços de produtos nocivos é fundamental para desincentivar o consumo. Aqui eu venho saudar a reforma tributária e a inclusão de produtos nocivos na sobretaxa, como tabaco, álcool e refrigerantes. Isso é muito importante, e precisamos até ampliar, pois outros ultraprocessados também deveriam ser sobretaxados. Também é preciso incentivar o consumo de alimentos saudáveis pelo apoio dos pequenos agricultores – para o aumento da produção e o.

Também é preciso crescer nas campanhas educativas, na prática da atividade física e nas orientações dos profissionais de saúde para aleitamento materno e alimentação saudável, por exemplo.

Em diferentes horários, de segunda a sexta-feira, o programa é transmitido na Rádio Super de Sorocaba (SP); Rádio Palermo (SP); Rádio Cantareira (SP); Rádio Interativa, de Senador Alexandre Costa (MA); Rádio Comunitária Malhada do Jatobá, de São João do Piauí (PI); Rádio Terra Livre (MST), de Abelardo Luz (SC); Rádio Timbira, de São Luís (MA); Rádio Terra Livre de Hulha Negra (RN), Rádio Camponesa, em Itapeva (SP), Rádio Onda FM, de Novo Cruzeiro (MG), Rádio Pife, de Brasília (DF), Rádio Cidade, de João Pessoa (PB), Rádio Palermo (SP), Rádio Torres Cidade (RS); Rádio Cantareira (SP); Rádio Keraz; Web Rádio Studio F; Rádio Seguros MA; Rádio Iguaçu FM; Rádio Unidade Digital ; Rádio Cidade Classic HIts; Playlisten; Rádio Cidade; Web Rádio Apocalipse; Rádio; Alternativa Sul FM; Alberto dos Anjos; Rádio Voz da Cidade; Rádio Nativa FM; Rádio News 77; Web Rádio Líder Baixio; Rádio Super Nova; Rádio Ribeirinha Libertadora; Uruguaiana FM; Serra Azul FM; Folha 390; Rádio Chapada FM; Rbn; Web Rádio Mombassom; Fogão 24 Horas; Web Rádio Brisa; Rádio Palermo; Rádio Web Estação Mirim; Rádio Líder; Nova Geração; Ana Terra FM; Rádio Metropolitana de Piracicaba; Rádio Alternativa FM; Rádio Web Torres Cidade; Objetiva Cast; DMnews Web Rádio; Criativa Web Rádio; Rádio Notícias; Topmix Digital MS; Rádio Oriental Sul; Mogiana Web; Rádio Atalaia FM Rio; Rádio Vila Mix; Web Rádio Palmeira; Web Rádio Travessia; Rádio Millennium; Rádio EsportesNet; Rádio Altura FM; Web Rádio Cidade; Rádio Viva a Vida; Rádio Regional Vale FM; Rádio Gerasom; Coruja Web; Vale do Tempo; Servo do Rei; Rádio Best Sound; Rádio Lagoa Azul; Rádio Show Livre; Web Rádio Sintonizando os Corações; Rádio Campos Belos; Rádio Mundial; Clic Rádio Porto Alegre; Web Rádio Rosana; Rádio Cidade Light; União FM; Rádio Araras FM; Rádios Educadora e Transamérica; Rádio Jerônimo; Web Rádio Imaculado Coração; Rede Líder Web; Rádio Club; Rede dos Trabalhadores; Angelu’Song; Web Rádio Nacional; Rádio SINTSEPANSA; Luz News; Montanha Rádio; Rede Vida Brasil; Rádio Broto FM; Rádio Campestre; Rádio Profética Gospel; Chip i7 FM; Rádio Breganejo; Rádio Web Live; Ldnews; Rádio Clube Campos Novos; Rádio Terra Viva; Rádio interativa; Cristofm.net; Rádio Master Net; Rádio Barreto Web; Radio RockChat; Rádio Happiness; Mex FM; Voadeira Rádio Web; Lully FM; Web Rádionin; Rádio Interação; Web Rádio Engeforest; Web Rádio Pentecoste; Web Rádio Liverock; Web Rádio Fatos; Rádio Augusto Barbosa Online; Super FM; Rádio Interação Arcoverde; Rádio; Independência Recife; Rádio Cidadania FM; Web Rádio 102; Web Rádio Fonte da Vida; Rádio Web Studio P; São José Web Rádio – Prados (MG); Webrádio Cultura de Santa Maria; Web Rádio Universo Livre; Rádio Villa; Rádio Farol FM; Viva FM; Rádio Interativa de Jequitinhonha; Estilo – WebRádio; Rede Nova Sat FM; Rádio Comunitária Impacto 87,9FM; Web Rádio DNA Brasil; Nova onda FM; Cabn; Leal FM; Rádio Itapetininga; Rádio Vidas; Primeflashits; Rádio Deus Vivo; Rádio Cuieiras FM; Rádio Comunitária Tupancy; Sete News; Moreno Rádio Web; Rádio Web Esperança; Vila Boa FM; Novataweb; Rural FM Web; Bela Vista Web; Rádio Senzala; Rádio Pagu; Rádio Santidade; M’ysa; Criativa FM de Capitólio; Rádio Nordeste da Bahia; Rádio Central; Rádio VHV; Cultura1 Web Rádio; Rádio da Rua; Web Music; Piedade FM; Rádio 94 FM Itararé; Rádio Luna Rio; Mar Azul FM; Rádio Web Piauí; Savic; Web Rádio Link; EG Link; Web Rádio Brasil Sertaneja; Web Rádio Sindviarios/CUT.

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